terça-feira, 23 de março de 2010

Flamengo - A Primeira Vez a Gente Nunca Esquece!

(Este texto foi produzido para publicação tanto neste blog quanto no Flamengo Eternamente, onde fui convidado a escrever um post pelo parceiro Warley Morbeck da Silva, o que prontamente aceitei e com muita honra e prazer! Não estranhem, portanto, os dois primeiros parágrafos, pois precisava me apresentar, nem o link para este mesmo blog ao final do texto...)

Olá para todos! Meu nome é Ivan e foi com muita honra que recebi o convite para escrever um artigo para o Flamengo Eternamente. Sem querer escrever um Curriculum Vitae, darei uma breve descrição de quem sou, para então discorrer sobre a razão deste post: como comecei a acompanhar a trajetória fantástica do nosso querido Flamengo. Não farei uma resenha de jogos mas sim um breve relato de como foram minhas impressões de garoto, se deslumbrando com seu time do coração.

Sou engenheiro eletrônico há mais de 26 anos e profissional de pesquisa e desenvolvimento da indústria de automação, na área de Automação Industrial. Trabalho numa empresa genuinamente brasileira, sendo já há vários anos uma multinacional 100% brasileira, que vi de perto crescer ao longo dos quase 25 anos em que lá estou, até tornar-se líder mundial em tecnologias de ponta para a área. E tenho muito orgulho de participar ativamente deste crescimento!

Mas, mais importante para o nosso contexto, sou um Rubro-Negro de quatro costados, daqueles que não sabem dizer quando nasceu esta paixão – provavelmente desde a fusão do espermatozoide com o óvulo! Vamos então ao que interessa: começarei descrevendo minha primeira experiência de Maracanã: um jogo Flamengo x Grêmio, no longínquo ano de 1971. Era apenas um garoto à época, e muito do que escreverei está registrado apenas na minha memória mas, como foi um fato marcante para mim, não me esqueço de certos detalhes. Eis alguns deles.


Uma coisa muito importante para mim foi o fato de meu saudoso pai ter me levado ao jogo, visto que ele trabalhava embarcado e viajando muito mundo afora, além do que ele não era o que se poderia ser descrito como um Rubro-Negro padrão. Reza a lenda que ele até nutria certa simpatia pelo Tricolor (lenda esta contada por minha irmã mais velha, que o é, embora eu nunca tenha acreditado nisto; ele até me disse que não quando certa vez o questionei, sem contudo ser totalmente convincente). Mas, sendo minha igualmente saudosa mãe uma Rubro-Negra ferrenha, ela o teria dissuadido de torcer pelo dito time. Posso até ter uma parcela de culpa nisto, pois o vi vibrando comigo no estádio, creio que com a minha alegria. O fato é que, de tanto que aporrinhava que queria ir ao Maracanã ver o Flamengo jogar, este jogo foi o escolhido para saciar minha vontade. E lá foi o meu paizão comigo pro Maraca...

Como criança é inocente: lembro-me de como achei importante ver o próprio Presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, nas tribunas de honra, próximo de onde estávamos. Ele se fez presente ao jogo e acenava solenemente para as torcidas dos dois times que dizia serem os de seu coração. Mal sabia eu o que ocorria no Brasil nesta mesma época, por obra deste mesmo cidadão...

Lembro-me também de ter achado o jogo meio chato, uma vez que terminou empatado e eu queria muito uma vitória como presente inaugural, mas nem isto retirou de mim a euforia de ver, pela primeira vez, meu amado time ao vivo e a cores! Era a época do Flamengo de Rodrigues Neto, Liminha, Arilson, o folclórico Fio e cia., um time limitado mas brigador, que não empolgava muito pelo futebol jogado, mas que pra mim já era o melhor time do mundo! Nesta época era mais interessante assistir aos jogos da equipe juvenil, onde Zico, Geraldo, Rondineli, Jaime, Cantarele e tantos outros promissores jogadores já chamavam bastante a atenção de todos.


Outra lembrança clara é a do nosso goleirão Ubijara Alcântara, o Ubirajara “Crioulo” (havia o Ubirajara Mota no Botafogo, que depois veio a ser nosso goleiro também). À época não havia ainda este chato patrulhamento ideológico, do Politicamente Correto, e podíamos chamá-lo deste jeito sem que ele se sentisse ofendido ou, por exemplo, nos exigissem que usássemos a alcunha de Ubirajara “Afrodescendente”, ou que faz com que seja hoje citado apenas como Ubirajara; mas eu tergiversei, voltemos ao goleirão...

Pois bem: o Ubirajara Crioulo, em certo momento morno do jogo, quando a bola estava no nosso ataque, pendurou-se no travessão e começou a fazer flexões para manter-se aquecido! Achei aquilo o máximo, pois nos VTs estas coisas não eram normalmente mostradas. Foi uma das atrações do jogo, uma figuraça que mereceria até um post à parte, pois até gol de gol a gol já fez, com a ajuda do vento... mas esta é uma outra história.

Uma curiosidade: tinha dentro de mim desde sempre a certeza de que este jogo foi pela disputa da Taça Presidente Médici; tinha isto como uma certeza absoluta, sempre soube disto, mas, ao pesquisar na internet sobre esta taça neste ano em questão, fiquei em dúvida se minha memória estaria me traindo ou se as fontes de informação via web estariam equivocadas¹. Nada tão importante assim, mas me deixou curioso...

Outro jogo inesquecível, o meu segundo - desta vez acompanhado não só pelo meu pai, mas mãe e irmão mais velho também, um verdadeiro programa familiar completo (inclusive com minha irmã mais velha e marido Tricolores indo junto e ficando na nossa torcida! rsrs) – foi o Fla-Flu da final da Taça Guanabara de 1972, com mais de 137 mil pagantes, que terminou com uma sonora goleada, impiedosamente aplicada pelo Mengão: 5 x 2!

Jogão, com direito a várias cambalhotas do artilheiro Caio “Cambalhota” (irmão do Luizinho “Tombo” - América e Flamengo) que marcou 3 vezes, um Renato “Aranha” fantástico no gol, e que ao tomar o 2º gol do Flu, já com o Flamengo tendo 4 no placar, ficou pedindo desculpas aos companheiros, Paulo Cesar “Caju” impossível e o diabo loiro Doval, o ídolo de então, que marcou 1 gol, arrebentando em campo. A equipe deste jogo foi esta: Renato, Aloísio, Fred, Tinho, Rodrigues Neto, Liminha, Zé Mário, Rogério, Caio, Doval, e Paulo Cesar. O outro gol, que não mencionei? Foi o 1º, marcado logo no início da partida, por ninguém menos que Liminha, o “Carregador de Piano”.


De negativo na equipe para mim só mesmo o treinador, Zagallo, pois havia mandado Zico de volta aos juvenis logo ao chegar ao clube, o de seus absurdos imperdoáveis cometidos contra o Flamengo e o Galinho! Depois, além de tentar segurar na retranca um time absolutamente ofensivo, ainda pisaria na bola novamente ao não levar Zico e Zanata para a Copa da Alemanha em 1974.

Lembro-me bem neste jogo do meu cunhado (e de minha irmã) me botando pilha durante todo o trajeto de ida para o estádio, me dizendo que eu iria presenciar uma derrota acachapante do Flamengo e que sairia envergonhado, e eu retrucando que eles não perdiam por esperar; lembro-me do quanto eu os aporrinhei durante o jogo inteiro, saindo até do lado dos meus pais logo no início da partida, para sentar-me ao lado deles, zoando até fazer com que meu cunhado admitisse o baile e a superioridade do Mengão; não sei se ele apenas se rendeu às evidências ou preferiu também ser poupado de tanta gozação, mas também isto foi glorioso para mim! Ah, como a vingança é doce!

Na final do Campeonato Carioca deste mesmo ano, após o Fluminense vencer o 2º turno e o Vasco o 3º, houve um triangular onde o Flamengo 1º derrota o Vasco por 1 a 0, e aí outra grande alegria: mais uma vez derrotamos o Flu, desta feita com um placar mais modesto: Flamengo 2 x 1 Fluminense, em pleno 7 de setembro e comemoração do Sesquicentenário da Independência, que nos valeu também uma taça, novamente diante de 137 mil pagantes. Até Vanderlei Luxemburgo participou desta partida, de lateral esquerdo. Os gols foram de Doval e Caio, pelo Mengão e Jair pelo Flu.



Houve neste mesmo ano um certo jogo pelo Campeonato Brasileiro contra o Botafogo, jogo este de amarga lembrança para nós Rubro-Negros. Como o pé quente aqui não pode ir (sempre acreditei piamente que, caso eu estivesse lá, o resultado seria bem diferente), acabamos ficando com o placar entalado na garganta por quase uma década, até que a Seleção Mundial de 1981 de Zico e cia. o devolvessem, com gol até de Andrade (o gol), para extirpar de uma vez por todas aquela maldita faixa “Mengo, nós gostamos de vo6”. De outra feita enfiamos um placar de 6 a 1 neles, como juros e correção monetária da "dívida"... rsrs



(Versão alternativa que inclui algumas fotos e a inesquecível narração do Rubro-Negro Jorge Curi do 6º gol!)


Teve ainda um outro jogo incrível, uma final do Campeonato Carioca de 1974, Flamengo 0 x 0 Vasco (o placar não diz o que foi o jogo!), com mais de 165 mil pessoas, segundo se divulgou oficialmente, e mais de 180 mil na verdade, para os jornais e para quem, como eu e meu pai, teve que se espremer e sentar de lado, pernas encolhidas, entre duas carreiras da arquibancada. Ficamos assim, sem poder nem ver o jogo direito até que algumas almas caridosas do entorno, lá pelo meio do 1º tempo, se apiedassem da nossa situação e nos acomodassem espremidos mas sentados de frente para o campo. E olha que tínhamos chegado com muitas horas de antecedência!

Poderia ficar aqui lembrando outros momentos, minhas aventuras já indo sozinho pro Maracanã, como em outra final emocionante demais: a da Taça Guanabara de 1975, Flamengo 1 x 1 Vasco – quase 175 mil pessoas oficialmente presentes! - ou minhas diversas aventuras em território inimigo, por exemplo batendo surdão na TO Nitorrubra, do América, tudo para poder ver o Flamengo jogar, mas o texto já está longo demais, e não quero cansá-los com minhas histórias todas de uma vez... Mas, antes que me perguntem: principalmente quando comecei a ir sozinho para o Maracanã, o Caio Martins, etc, passei a ir em praticamente todos os jogos, até os contra os pequenos, e não apenas em clássicos e finais, como o texto pode dar a entender.

É isto!

SRN


Ivan Pantaleão
blog “Aqui é Flamengo, Moleque!” http://aquiehflamengo.blogspot.com/

Nota:

1- Ao fazer uma busca na Internet, para embasar com dados as minhas reminiscências, comprovei um sentimento que, como profissional da área de Tecnologia da Informação, muito me entristece: dados errôneos, conflitantes até, uma vez adicionados à web, se perpetuam e são disseminados por diversos outros sites!

Uma prova disto é que, ao digitar-se Flamengo +”Taça Presidente Médici” no Google “descobre-se” que tanto Flamengo quanto Grêmio são citados como vencedores em 1971, por diversas fontes, inclusive os portais oficiais dos dois clubes! E que a maioria das referências citam que o jogo foi no estádio Presidente Médici, em Brasília, DF (como no Flaestatística, entre outros).

blog comments powered by Disqus
 
BlogBlogs.Com.Br